A estrutura da realidade e a busca pela verdade
- Ismael Luz
- 8 de out. de 2024
- 2 min de leitura

Dentre todas as experiências humanas, existem algumas que certamente são as mais fundamentais e são elas que possibilitam a nós, seres humanos, a participação no universal e a apreensão da realidade. Desde a mais tenra idade, antes mesmo que pudéssemos nos dar conta da complexidade da existência, já havia em nós a capacidade inata da presença do Ser, experiência esta que impacta nossos sentidos e revela-nos que estamos inseridos em um todo que nos abarca e abrange como uma de suas partes. O Ser é percebido por nós como o fundamento inabalável de nossa existência, pois algo há e habitamos e existimos nele como certa vez disse o Apóstolo Paulo em uma de suas epístolas.
O segundo grande fundamento de nossa experiência humana é a presença do ilimitado, do Apeiron de Anaximandro, desta infinitude que está para além de nossas capacidades sensoriais e que embora nos escape enquanto substância definida temos a firme consciência de que algo existe para além de nossa percepção e que é justamente este ilimitado que sustenta todo o manifestado e o contém, visto que o finito está dentro do infinito e do eterno. Desse modo, ao tomar a consciência dessa força criadora nosso campo cognitivo trabalha em circuito aberto em busca das soluções dos inúmeros enigmas da realidade circundante. Este Apeiron é a causa e o sustentáculo do Ser e de toda experiência humana.
Ao sermos invadidos por essa presença total por meio dos sentidos ampliamos toda a nossa fantasia, composta por imaginação e memória, adentrando assim no mundo dos símbolos, que funcionam como uma força hormonal capaz de fecundar nossos pensamentos, e é justamente a articulação dessa matriz simbólica que chamamos de razão. O raciocínio só se manifesta em decorrência do poder da memória que apresenta à mente a matéria prima, o substrato suficiente para a formação do discurso do fato para o abstrato, e passamos então da realidade individual dos seres para a sua universalidade.
Por fim, ao tomarmos a consciência de que estamos inseridos em um mundo complexo e ilimitado, sujeitos a forças descomunais e desconhecidas e à mercê desse mistério que nos imprime sua presença de forma incontestável nossa mente busca a integração total por meio da razão, que nada mais é do que uma relativização das partes desse todo e a tentativa de estabilização dos sentidos em busca da adequação entre mente e realidade. À medida que nossa razão emerge do mundo da sombra para a luz dessa consciência cósmica, este mesmo mundo exige de nós conhecimentos que a própria razão não é capaz de abarcar, gerando assim uma espécie de trauma cognitivo acompanhado de um sofrimento patente, que se manifestam ao mesmo tempo em que nos tornamos inteligentes e capazes de compreender a realidade, portanto, a razão e o trauma são indissolúveis e funções estruturantes de nosso ser.
A presença do Ser, o infinito, a razão e o trauma gerado por ela, são experiências humanas universais e estruturantes e necessárias para a evolução do homem rumo a seu destino em busca da Verdade.
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